quarta-feira, 24 de junho de 2009

mais uma divisão

Das duas janelas do escritório vejo os dois habitantes mais velhos desta casa.

O cerrado abeto e a grande buganvília, agora colorida pelo verão, mantêm a dignidade de outros tempos no meio de um jardim que cresce aparentemente selvagem.

Não é à primeira visita um jardim muito acolhedor, não cativa pelos cheiros marcados, nem pelas cores vivas e muito menos pelo ar cuidado e geométrico. Não está cá para receber piropos, faz apenas o que lhe compete. A sombra cerrada, ajuda o fresco a abrigar-se aqui nos dias de calor insuportável do outro lado da vedação. O verde de que reveste a antiga casa não deixa que se perca a sensação de antiga gloria colonial, sítio de histórias, de festas, de tempos bem melhores que os de agora.

- Gosto à brava deste jardim! – despretensioso, que vive por si indiferente aos outros mais bem tratados que consegue ver da alta copa do velho abeto, que vive bem com a água que cai e com aquela que aproveita com falsa indiferença quando por algum acaso ou pelos dias menos ocupados alguém se lembra de lhe dar, que fica tão bem no fundo de um arraial como no dia em que, bem comportado, recebe um jantar com velas.

- Gosto à brava de pessoas assim! – despretensiosas, que vivem por si e para si, que vivem bem com aquilo que conseguem mas não escondem a alegria quando os velhos amigos os visitam ou descobrem outros, que adoram uma casa bem decorada e uma mesa apetecível mas que sem pensar duas vezes as trocam por uma única paisagem, mesmo que esta não valha a pena.

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