domingo, 28 de junho de 2009

back to school

O Peugeot preto ia invariavelmente carregado com um ano de coisas para cada último exame da época de verão. Lembro-me perfeitamente de ser o exame em que estava mais concentrado, mas ao mesmo tempo aquele em que sentia menos pressão. Lembro-me como se fosse hoje de sair da sala, falar com os amigos, de falar dos planos para os próximos dias, dos encontros em qualquer parte, de partir sempre sozinho para sul.

Acredito que cada um de nós, tenha ou não os seus rituais, sabe que aquele último dia tem um sabor irrepetível a liberdade inútil, tão útil.

sábado, 27 de junho de 2009

África bohemia

Apesar de saber que os animais do Sahara são os dromedários, também sei que na Argélia não há cerveja Sagres, logo... alguma coisa de muito errado se passa nesta imagem.
Ah não!! Esperem!! Foram apenas a vontade de rever os amigos e gritá-lo bem alto que me fizeram lembrar desta fotografia. Até já!

united colors for dinner

Apenas um prato, não é sinónimo de falta de côr numa refeição.

on y va?

Porque as férias se aproximam e a calma pode ter muitas moradas, é hora de reflectir, mas não muito!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson

Para mim, até hoje, apenas a Farrah Fawcett podia figurar num dead or alive quiz.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

ups!

No meio de um trabalho chatíssimo acerca do mercado de materiais de construção na Argélia, descobri isto:

Este é daquele tipo de coisas que me faz perguntar quantas vezes temos de errar até acertar? Até descobrir o que queremos estar a fazer daqui a 10 anos.

mais uma divisão

Das duas janelas do escritório vejo os dois habitantes mais velhos desta casa.

O cerrado abeto e a grande buganvília, agora colorida pelo verão, mantêm a dignidade de outros tempos no meio de um jardim que cresce aparentemente selvagem.

Não é à primeira visita um jardim muito acolhedor, não cativa pelos cheiros marcados, nem pelas cores vivas e muito menos pelo ar cuidado e geométrico. Não está cá para receber piropos, faz apenas o que lhe compete. A sombra cerrada, ajuda o fresco a abrigar-se aqui nos dias de calor insuportável do outro lado da vedação. O verde de que reveste a antiga casa não deixa que se perca a sensação de antiga gloria colonial, sítio de histórias, de festas, de tempos bem melhores que os de agora.

- Gosto à brava deste jardim! – despretensioso, que vive por si indiferente aos outros mais bem tratados que consegue ver da alta copa do velho abeto, que vive bem com a água que cai e com aquela que aproveita com falsa indiferença quando por algum acaso ou pelos dias menos ocupados alguém se lembra de lhe dar, que fica tão bem no fundo de um arraial como no dia em que, bem comportado, recebe um jantar com velas.

- Gosto à brava de pessoas assim! – despretensiosas, que vivem por si e para si, que vivem bem com aquilo que conseguem mas não escondem a alegria quando os velhos amigos os visitam ou descobrem outros, que adoram uma casa bem decorada e uma mesa apetecível mas que sem pensar duas vezes as trocam por uma única paisagem, mesmo que esta não valha a pena.

terça-feira, 23 de junho de 2009

i can get ... satisfaction

Hoje acordei com uma vontade enorme de descer a Boulevard Colonel Bougara, virar em Porto Côvo, meter pela Didouche Mourad até lá abaixo ao centro de Argel e enfiar os pés na areia dos Aivados.

Falta menos de um mês e sei que a parte de mim que quer ir a casa é a mesma que quer que o tempo passe devagar, para aproveitar mais. Aproveitar o que faltou até agora ou tudo aquilo que merece ser repetido.

sábado, 20 de junho de 2009

o meu verbo

Sempre disse que o meu verbo era o "ir" até ao dia em que percebi que conjugava bem melhor o "viajar".

Por coincidência, ou não, descobri hoje que "reis" significa viagem em holandês. E esta pai?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

keep it simple... please

Perdi a noção do tempo naquele final de tarde quente em Lisboa. Não me lembro se foram muitos ou poucos os minutos que passei na secção de viagens da livraria. Recordo-me apenas dos livros que escolhi, cinco, que empilhei cuidadosamente por tamanho ao meu lado sobre o banco de couro onde me sentei. Sei que durante um bocado não voltei a olhar para eles. Perdi-me nas lombadas dos outros, os que estavam ainda nas estantes à minha frente.

A verdade é que não pensei em coisas de grande profundidade e que com certeza ficariam bem, escritas num grande parágrafo. Foi simplesmente o pensamento antigo de viajar sozinho que me fez olhar novamente para a pilha em cima do banco, olhar uma ultima vez antes de lhes pegar e me dirigir à caixa. Depois de sair dali, percebi que já não havia volta. Enfiei tudo o que me pareceu necessário numa mochila nessa mesma noite. Mal dormi. Comprei um bilhete na manhã seguinte e parti ao inicio da tarde voltando a casa um mês depois.

Lembrei-me disto hoje, a meio de uma conversa onde alguém me disse qualquer coisa sobre o facto de as pessoas passarem demasiado tempo a pensar nas coisas, perdendo energias que podiam utilizar a fazê-las. Bem visto!

sábado, 13 de junho de 2009

Yaum as-Sabt, ou o primeiro dia da semana

Sem entrar no que é legitimo ou não pedir, se é fútil ou altruísta, extravagante ou modesto, possível ou impossível, nesta tarde de sábado apetecia-me estar neste sítio:

Chama-se Biarritz. Não é um lugar alternativo, nem sequer é longe ou muito menos é exótico. Para mim é apenas a prova de que existem de facto sítios aos quais sentimos uma ligação inexplicável, sítios onde podíamos voltar sempre, mostrá-los a cada vez que aparece alguém a quem queremos arrancar um sorriso enorme sem dizer absolutamente nada.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

10 de junho

Trocava os sapatos pelas havaianas, a camisa pela t-shirt, as calças pelos calções, a mesa dos acepipes pelo grelhador, a carne de carneiro pelas sardinhas, o jardim da casa do embaixador pelo quintal cá de casa. Os amigos que cá estão, esses não os trocava, apenas juntava os outros, os que estão em Portugal, em Espanha, em Inglaterra, na Malásia ... 
No fim das contas até deixava os sapatos, a camisa, os acepipes, o carneiro e o jardim da casa do embaixador...
(e que a minha avó nunca saiba que nenhuma das peças de roupa que levo vestida não foi engomada, desculpa)
(de um sítio longe como tudo, chegou o reparo os que estão em em vez de os de)

Roma


Gaetano Cellini, pintor e escultor italiano do fim do século XIX, inicio do século XX. Lembrei-me dele num café "algures", há já umas semanas atrás. 
L’umanità contro il male de 1908, prendeu-me uma boa meia hora numa das salas da Galleria nazionale d'arte moderna e contemporanea de Roma. Fica a sugestão para quem quiser dar uma folga ao império romano, ao renascimento e ao Vaticano.

(Não tenho nenhuma fotografia, fica no entanto um desenho que encontrei na internet, que apesar de ser muito bom não é bem a mesma coisa)



free meals

Sei que este texto até pode tocar, em alguns pontos, o das aulas de francês. No entanto é daquelas respostas que gostava de ter dado, daquelas respostas boas das quais só nos lembramos depois, quando já não há nada a fazer, quando o timing já se perdeu. 


Apesar de despojada de qualquer design, luzes sobre as bancadas de azulejo encarnado, ou cortinas em tecido acolhedor, a cozinha da grande vila onde vivo em Argel está agora francamente mais viva do que aquilo que recordo do dia em que cheguei.

Já perdi a conta aos convívios que aqui se fizeram e às pessoas que por aqui passaram, mas nunca me esquecerei das amizades que cresceram à volta da mesa onde invariavelmente as toalhas se improvisam com desenhos técnicos, onde os pratos iguais nunca chegam para todos tal como as cadeiras que vêm ora do jardim ora do escritório.

Talvez seja pela comida, sempre a piscar o olho a Portugal (mesmo quando sou eu que faço a ementa, não é Paulo?), talvez seja pela boa disposição e as horas de conversa que quase sempre nos abstraem do exterior, o que é certo é que nunca me lembro de ninguém ter saído daqui a sugerir mudar o que quer que fosse nesta divisão.

A cozinha não é minha nem nunca será, tal como o país que nos recebe também não mudará nunca de margem no mediterrâneo (até porque seria uma chatice encaixar isto onde quer que fosse). Muito pouca coisa vai ficar diferente quando nos formos embora, pouca coisa excepto nós, os que passámos pela cozinha, pelo país, nós que tivemos a paciência de deixar passar a vontade de querer mudar aquilo que não é mutável nem faria sentido se o fosse, de entrar na cabeça dos outros com as nossas próprias medidas, que aprendemos a chegar a outra casa apenas para saborear a refeição, contar histórias e ouvir outras tantas.

embrulhe Sra. Engenheira

segunda-feira, 8 de junho de 2009

SAHABANE

Atravessámos a pequena aldeia deviam passar poucos minutos das seis da tarde. Há cerca de uma hora que procurávamos, entre povoações perdidas no mar de areia, o melhor sítio para tirar umas fotografias. A hora e meia seguinte passou  sem eu dar conta, entre fotografias, conversas, exclamações e o aguardado pôr do sol.

No regresso, o mesmo caminho mas sem a fúria da busca, a mesma aldeia, as mesmas casas, as mesmas ruas, talvez as mesmas pessoas – não me recordo bem.

As crianças brincam na rua às dezenas, os mais velhos sentam-se em grupos aproveitando do fim do dia a brisa e a luz já difusa. Faço o pequeno Suzuki avançar devagar, abro a janela, delicio-me com as pessoas. Numa carroça puxada por um burro, vão umas quatro ou cinco crianças, todas pequenas, oito anos o mais velho.  Uma das mais pequeninas sorri espontaneamente, faço-lhe um aceno, ela corresponde, os outros seguem-lhe o exemplo. Nesse momento tiro a melhor fotografia da tarde, a única que não posso editar, imprimir nem enviar aos amigos. Guardo-a comigo na esperança de que o tempo não a deixe perder-se na minha memoria.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

le course de française

As aulas de francês sempre foram uma espécie de realidade paralela na minha estadia em Argel.

Ainda antes das nove horas, encostei-me a uma janela do primeiro andar que dá para o pátio do centro cultural francês, passavam já quase três semanas desde a minha ultima aula e as sensações que costumava sentir voltavam agora lentamente à minha memoria.

Para lá do pátio, o grande prédio colonial de arquitectura simétrica e janelas dispostas em quadricula domina a paisagem. Só não se torna enfadonho porque aparentemente nenhum dos que lá habita olha para fora de maneira igual.

As flores, as cortinas, a bicicleta, a gaiola, a mulher de roupão. Todos misturados e diferentes, mas juntos numa só fachada, diferentes mas juntos tal como os meus colegas, juntos na forma como prestam atenção às minhas descrições dos sítios que conhecem apenas dos livros. Diferentes, dando-me o privilégio de os ouvir, de me emocionar, de rir, de me fazer sentir grato por estar aqui.

improvisando com as outras inteligências

Hoje é um daqueles dias em que a liberdade, que vai chegar nos próximos meses, me sufocou de uma forma que me arrelia e me tornou o dia pesado juntamente com o calor de África.

Penso com clareza, utilizo a inteligência que me foi dada em detrimento de outras, ponho o pensamento lógico-matemático a funcionar e afinal, escolho sem dificuldade a resposta – nenhuma das anteriores – é que sem os dados suficientes não vale sequer a pena procurar, por antecipação, uma resposta com uma só solução.

Encosto-me na cadeira, esboço um sorriso e penso – bendito ar condicionado.