quarta-feira, 10 de junho de 2009

free meals

Sei que este texto até pode tocar, em alguns pontos, o das aulas de francês. No entanto é daquelas respostas que gostava de ter dado, daquelas respostas boas das quais só nos lembramos depois, quando já não há nada a fazer, quando o timing já se perdeu. 


Apesar de despojada de qualquer design, luzes sobre as bancadas de azulejo encarnado, ou cortinas em tecido acolhedor, a cozinha da grande vila onde vivo em Argel está agora francamente mais viva do que aquilo que recordo do dia em que cheguei.

Já perdi a conta aos convívios que aqui se fizeram e às pessoas que por aqui passaram, mas nunca me esquecerei das amizades que cresceram à volta da mesa onde invariavelmente as toalhas se improvisam com desenhos técnicos, onde os pratos iguais nunca chegam para todos tal como as cadeiras que vêm ora do jardim ora do escritório.

Talvez seja pela comida, sempre a piscar o olho a Portugal (mesmo quando sou eu que faço a ementa, não é Paulo?), talvez seja pela boa disposição e as horas de conversa que quase sempre nos abstraem do exterior, o que é certo é que nunca me lembro de ninguém ter saído daqui a sugerir mudar o que quer que fosse nesta divisão.

A cozinha não é minha nem nunca será, tal como o país que nos recebe também não mudará nunca de margem no mediterrâneo (até porque seria uma chatice encaixar isto onde quer que fosse). Muito pouca coisa vai ficar diferente quando nos formos embora, pouca coisa excepto nós, os que passámos pela cozinha, pelo país, nós que tivemos a paciência de deixar passar a vontade de querer mudar aquilo que não é mutável nem faria sentido se o fosse, de entrar na cabeça dos outros com as nossas próprias medidas, que aprendemos a chegar a outra casa apenas para saborear a refeição, contar histórias e ouvir outras tantas.

embrulhe Sra. Engenheira

2 comentários:

Cristina Mendes disse...

Eu nao acredito, tiago, tinhas d por uma foto em que eu tou na bancada a lavar a loica, que bonito, rhhhh!

Nocas disse...

Gostei Tiago! :)